domingo, 1 de janeiro de 2012

Freud vai ao Cinema - nº01

Analisar um filme é partir de uma escolha – escolher sobre que vertente abordar dentre as várias que são colocadas em tela. Desta forma, falar sobre o filme “Confiar” que tem como protagonista o ator Clive Owen, é pensar uma temática um tanto quanto inquietante à natureza do ser humano: o salto no escuro que se dá ao acreditar no seu semelhante.
Na era da internet, nem sempre a pessoa que está do outro lado do computador é tal qual se apresenta. Isso é o que descobre Annie (Liana Liberato), de 14 anos, que pensa ter encontrado seu primeiro namorado num bate-papo virtual. A adolescente, então se envolve num movimento de seduzir e se deixar seduzir por um homem adulto.
Neste contexto, sobressai o tema adolescência – e falar desta fase peculiar do desenvolvimento humano, dentre as várias mudanças que ocorrem, implica falar de um encontro com o sexo – o qual não se reduz à relação sexual propriamente dita, mas muito antes disso, é o encontro do adolescente com as questões (até então adormecidas), sobre o surgimento de um posicionamento na escolha sexual, ou seja, o ser homem ou ser mulher.
De uma forma paradoxal, a presença dos pais junto ao adolescente é fundamental, antes de mais nada, para que ele possa desempenhar sua função de separação dos mesmos. E esta fase é marcada principalmente, por um longo trabalho de elaboração de escolhas e um longo trabalho de elaboração da falta do e no outro.
“Confiar” não deixa de ser, também, interessante comentário sobre a nossa contemporaneidade. Costumamos ver no caráter um tanto anárquico da internet, garantia de liberdade de expressão sob todas as formas. Daí que qualquer tentativa de discipliná-la ganhe logo rótulo de censura. Nada disso é falso, mas a liberdade total de postarmos o que bem quisermos acobertados por pseudônimos, não é sinônimo automático de transparência.
Pelo contrário: vivemos na neblina. E é bom sabermos disso.
(Texto publicado na Revista Fox de Janeiro/2012)

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