domingo, 26 de fevereiro de 2012

Um ácido sentimento

O sentimento é forte, diria até avassalador, Como é cruel o ciúme!!. Na mitologia grega, levou Medéia a matar os próprios filhos para se vingar de Jasão. Nas histórias de Shakespeare, fez com que Otelo acreditasse nas intrigas de Iago e matasse a própria mulher, Desdêmona. O pintor Edvard Munch - um dos criadores do expressionismo. Em dezembro de 1893, em Berlim, Munch fez exposição individual com várias pinturas intitulada Love. Fazem parte dessa série as obras Melancholy (1891), Ashes (1894), Jealousy (1895), The Kiss (1897), Separation (1900), entre outras. Munch foi o pintor de angústias existenciais e ameaças invisíveis como o ciúme. Emoção tão antiga quanto a própria humanidade, esse sentimento, ainda hoje, leva diferentes gerações às mais diversas e imprevisíveis reações diante da iminente perda do objeto amado.
Fala-se muito do ciúme, quando este se coloca presente na vida amorosa das mulheres. Entretanto, parece ser nas escolhas objetais dos homens (quando este tem como objeto de desejo, de amor a mulher) que o ácido sentimento aparece muitas vezes como condição de escolha, como um modo particular de gozo. É... eles também morrem de ciúmes!

Para Freud, o ciúme se coloca como algo fundamental nas escolhas amorosas dos homens, sendo este (o ciúme) portanto, herdeiro da trama edípica vivida pelo sujeito. O conhecido Complexo de Édipo teorizado por Freud, e mais tarde reeditado por Jacques Lacan (psicanalista francês), que resumindo (coisa que não gosto muito de fazer), trata-se no caso dos meninos de um “apaixonamento” pela figura materna e reações hostis para com o pai. Este “romance” que é vivido de forma inconsciente, tem seu fim quando o menino se dá conta da impossibilidade e dos riscos desse sentimento, então abre mão de seu desejo, aceitando que esta mulher (a mãe), pertence a um outro homem (pai). O menino desiste do amor da mãe e o entrega a um terceiro

Em 1922, mais de duas décadas depois, Freud escreveu: " Embora possamos chamá-lo de "normal", o ciúme não é, em absoluto, completamente racional, isto é, derivado da situação real, proporcional às circunstâncias reais e sob controle do ego consciente, pode achar-se profundamente enraizado no inconsciente, ser uma continuação das manifestações da vida emocional da criança e originar-se no complexo de Édipo ou das relações entre irmãos do primeiro período sexual. Além do mais, é dígno de nota que, em certas pessoas, ele é experimentado bissexualmente - o homem não apenas sofrerá pela mulher que ama e odiará seu rival, mas sentirá pesar pelo homem a que ama incoscientemente e pela mulher, sua rival".

A rivalidade, a hostilidade, a conquista e os ciúmes parecem ser desta época reeditada na vida adulta dos homens, questões que fazem-se necessárias em suas posteriores escolhas. Em Contribuições a Psicologia do amor, Freud fala, no que se refere as escolhas de objeto feita pelos homens, de “quatro condições necessárias”. A primeira delas seria a do “terceiro prejudicado”, diz que um homem interessa-se por uma mulher sobre a qual um outro homem lhe reivindique a posse (marido, pai, amigo), seria uma mulher que pertença a um outro homem, este homem revive assim a trama edípica. Comumente ouço no discurso de homens, esse gozo em existir na vida da mulher um outro, sobre o qual ele triunfe. Seja um amigo, primo, um ex, que ele por exemplo, lhe sugira o afastamento.

A segunda condição combina-se com a primeira, e a mulher lhe aparece enquanto leviana, uma mulher a qual o homem coloque sua fidelidade em dúvida. Ele observa que aquela mulher de reputação inquestionável não exerce nos homens nenhuma atração, é a outra, que o faz montar cenas,  (em que a infidelidade está presente), e lhe faz despertar o ciúme, que faz parte de sua condição erótica.

A terceira condição trata-se da escolha de uma mulher de alto valor, e a última refere-se ao desejo de salvar essa mulher. Onde ele ocupa uma posição de ser “tudo” para ela, de que esta precise dele, de sua ajuda, de sua força, sua virilidade, seu amor. E salve-a por não abandoná-la, já que sem ele, esta mulher estaria perdida.

Podemos dizer então que as condições que se impõe ao homem seriam de que, sua amada não fosse desimpedida, que lhe deixe duvidar da fidelidade, que possua de fato o alto valor que lhe atribuiu e que responda a sua necessidade de sentir ciúmes, ou seja, de rivalizar com um outro homem.

 *Este texto não tem como respaldo a experiência clínica das fantasias masculinas, mas uma combinação de observações da vida cotidiana e considerações psicanalíticas teóricas.
Larissa Nogueira


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Melancolia

            Décimo quarto filme do dinamarquês, Lars Von Trier, chega às locadoras. Ficção? Filme desastre? drama psicológico? Isso! Melancolia pode ser visto sob qualquer um desses ângulos. No começo do filme temos uma dica do que está por vir, cenas lindíssimas sobre a música de Tristão e Isolda de Richard Wagner.
            A Terra está prestes a ser atingida por outro planeta, Melancolia, azul como a Terra, um duplo nosso. Duplo assim como o filme que se divide em duas partes, destinadas a duas irmãs. A primeira dedicada à Justine (Kirsten Dunst), irmã mais nova, e a segunda à Claire (Charlotte Gainsbourg), materializando assim a dualidade de uma reflexão sobre a irmandade.
            Durante a festa de casamento de Justine e Michael (Alexander Skarsgard), as aparências que o casal de anfitriões Claire e John, tentam manter arduamente começam a rachar, desde o atraso dos noivos, passando pelos discursos dos pais divorciados das irmãs, o sumiço constante da noiva Justine em sua própria festa de casamento. Assim temos uma quebra das crenças convencionais de que o casamento, o sucesso profissional e financeiro possa sustentar qualquer tipo de estabilidade, seja pessoal ou coletiva.
            Para além do fim do mundo, o filme nos fala da condição humana. Claire é racional, adaptada as convenções, esposa, mãe e vê o fim como o fim de sua família, de seu filho, do amor de seu marido, tenta fazer um elo entre Justine e o mundo real. Claire, não compreende o inevitável da vida, enfrenta a morte com todo o desespero que uma neurose pode proporcionar. E em uma das cenas mais belas do cinema, observa a irmã de longe se banhando nua, na luz noturna do reflexo do planeta melancolia. Justine, que apática vê nisso tudo a chance de findar essa dor, a dor de um mundo que parece não fazer parte, um mundo que não a quer. Existe ordem no caos.
            Podemos observar também uma linha edípica, onde uma mãe desesperançosa cultiva identificações em Justine e um pai que passa pela vida da filha quase de "carona", na cena do bilhete que deixa para a filha ao ir embora "de carona" de seu casamento.
            As pernas pesadas, amarradas por fios de lã não levarão Justine a uma vida interna feliz. Justine tem uma ausência materna, sofre com a falta do que jamais teve e é tomada pela melancolia, uma tristeza de não receber hoje (cena do discurso do casamento) nem quando criança o amor tão necessário para seguirmos sozinhos. Em outra tentativa Justine procura o pai - pura ausência - o mesmo não a reconhece e mais uma vez não espera por ela. Justine é só e sempre foi. De novo o vazio.
            O relacionamento com a mãe é fundamental, lá estão os alicerces que precisaremos para seguir em frente. No início de nossa existência precisamos de um olhar, do reconhecimento de alguém que nos deseje e nos nomeie para mais tarde nos libertarmos desse lugar do desejo materno, saber quem somos para além do que nos desejaram, para além do que nos construíram.
            Justine tinha um vazio, não uma construção. Tinha beleza, juventude, dinheiro, talento, um lindo homem apaixonado por ela, resumindo: tinha tudo para ser feliz! Tudo menos esse alicerce do qual falamos: a mãe. Então, Justine, no seu grande dia de mulher, dia do seu casamento, ela desaba, ela rui. Rui, como que devastada por um planeta destruidor, só que este não vem de outro lugar, vem de dentro de Justine.
            Na segunda parte do filme o quadro de apatia de Justine, anunciado na primeira parte, logo se faz claro como uma melancolia. É o que vemos na cena em que Claire chama Justine para comer sua comida predileta, bolo de carne, e Justine diz chorando que o bolo tem gosto de cinzas. Vemos então de maneira dramática como é a vida para um melancólico: insossa, para ele não há prazer possível.
            Na melancolia não vemos somente um quadro clínico, mas também uma condição d´alma e podemos sentir enquanto expectadores o desconforto que essa condição humana nos causa. Em Luto e Melancolia, Freud nos diz que no luto o estado de desânimo é provocado pela perda do ser amado e que na melancolia não há fonte tão clara dessa ferida. "A melancolia está, de alguma forma, relacionada a uma perda objetal retirada da Consciência" (Freud, (1917, p.278).
            Podemos ainda pensar nas irmãs como diferentes lados de uma mesma mulher. E se fizermos isso podemos lançar mão de todo o conteúdo psicanalítico sobre o feminino. Afinal, o filme nos dá recursos para isso, pois todos os homens da história partem! O pai e o marido de Justine vão embora, o marido de Claire suicida-se, o único homem que permanece é Leo, filho de Claire, uma criança sobre os cuidados de duas mulheres.
            Melancolia nos convida a várias interpretações, nos mostra que nada é mais calmo e relaxante que a esperança, seja apenas um fio dela que faz Claire relaxar ao sol ou o contrário que permite que todos esperem que a passagem do planeta seja apenas algo lindo e inesquecível.
           

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Com a palavra, a Histeria.



No século XIX, Freud, ainda atuando como médico neurologista ficou intrigado com a histeria, até então naquela época para a medicina os sintomas eram exagerados, escandalosos e eram tidos como uma farsa para chamar a atenção. No entanto, para Freud esses sintomas eram enigmáticos e assim ele procurou decifrá-los. Esse ato o levaria a descoberta do inconsciente e a fundação da psicanálise. Sorte nossa!!
Freud vai para Paris para estudar com Charcot, onde o sistema hospitalar francês inovava no tratamento das doenças que eram tidas como nervosas, lá em Paris é possível tratar esses pacientes dentro do hospital La Salpétrière, separando-os dos outros para examiná-los, observar seus sintomas e classificá-los. E é lá que Freud assiste Charcot hipnotizar suas pacientes histéricas e assim tentar buscar uma cura para elas. Quando volta de Paris, Freud instala-se em Viena e começa seu trabalho como médico de enfermidades nervosas, seu tratamento era feito através da eletroterapia (que largou rapidamente) e a hipnose. Esta lhe dava condições de fazer uma investigação psíquica no paciente além de potencializar o efeito sugestivo.
Josef Breuer, amigo e mestre de Freud, lhe confidência que tem tratado de uma moça (O caso Anna O) através da hipnose, onde ela fala de cada um de seus sintomas até lembrar o acontecimento inicial que os teria provocado e assim a paciente é sugestionada a não ter mais aquele determinado sintoma e é desta forma que aquele sintoma desaparece. Freud acompanha Charcot em alguns desses atendimentos e começa a ver em outros pacientes tratados por ele mesmo as descobertas de Breuer.
Em 1893, Freud e Breuer publicam esses achados em “Comunicação Preliminar”, que em 1895 será incluída num livro chamado “Estudos sobre a Histeria”. Juntos concluem que os sintomas são resultados de situações traumáticas e que a hipnose faz com que os sintomas e o sofrimento se conectem com esses restos, com as lembranças, com as “reminiscências” das situações afetivas em que se formaram. As circunstâncias em que elas aconteceram, impediram ou inibiram a possibilidade de uma elaboração psíquica bem como a expressão de impulsos ou de afetos, resultando numa formação de sintomas sustentados por uma grande carga afetiva e com a hipnose havia uma recuperação mnêmica que consistia em reviver a situação traumática com toda a sua carga afetiva e assim possibilitando uma descarga dessa energia que até então estava investida em sintomas corporais.
Freud seguiu seus mestres, utilizando a hipnose, mas quando se deparou com os limites da técnica no tratamento da histeria e quando verificou que as próprias analisandas, pediam que as deixassem falar, resistindo a cair no sono hipnótico e contando seus sonhos, vai mudando a sua forma de trabalho aos poucos, passo a passo, em cada atendimento, abrindo caminho para o método psicanalítico, colocando-se então a escutar as histéricas e constata seus efeitos terapêuticos, substituindo assim a sugestão pela associação livre e pela atenção flutuante, colocando os analisandos e os responsabilizando também pelo seu processo de melhora. Desta forma faz com que as histéricas procurem nelas mesmas o caminho de seu desejo.
As histéricas são de grande importância para a psicanálise! Freud as escutou em seu sofrimento, descobriu com elas a transferência, inventou a psicanálise e deparou-se com os limites do analisável. Mas, do que falavam as histéricas? Fazendo a associação livre, as cadeias de linguagem, as levavam a falar de seu passado, na forma de reminiscências soltas, ou encadeadas, reminiscências de infância, reminiscências sexuais, dos momentos de trauma, de seus desejos incestuosos. Logo, falar era então recordar acontecimentos importantes do passado que o paciente relacionava às questões de sexo e morte. Acontecimentos importantes que muitas vezes “apareciam” como banais e por trás desses sintomas, Freud viu então que ali estavam sempre as questões do sujeito, com suas feições próprias, ou seja, pessoas diferentes tem reações diferentes diante do mesmo acontecimento. Freud se dá conta então que a histérica não esconde algo do outro, mas sim dela mesma, e que a dimensão disso é, maior para ela do que para o outro, ou seja, de uma idéia de um esquecimento intencional, Freud chegará à conclusão de que existe uma motivação inconsciente.
No entanto, chegar as lembranças não é uma tarefa fácil, implicava em atravessar obstáculos, atravessar a “resistência a rememoração”. É quando Freud percebe que quando o sujeito chega próximo de algumas lembranças ele interrompe a rememoração e é esse obstáculo que levará Freud e pensar no recalque. Que acaba se tornando um dos conceitos fundamentais da psicanálise além de nos permitir abrir várias portas e é tentando entender o mecanismo do recalque que Freud descobre o inconsciente e que também o conduz ao reconhecimento da sexualidade. No texto “O projeto de uma psicologia para neurólogos”, Freud nos diz que é pelo fato de existir um trauma anterior que as experiências recentes têm efeito traumático.
O traumático para nós, não será a cena acontecida, o que pode ter acontecido conosco, mas a lembrança da cena, que num momento posterior é capaz de desprender excitação, logo, é a lembrança que nos traumatiza. Perante a ameaça de lembrar de algo ameaçador nos defendemos e fazemos isso recalcando essa lembrança. E do que nos defendemos? O que recalcamos? O conteúdo recalcado é da ordem do sexual! Esta é uma afirmação que Freud fará do começo ao fim de sua obra e é por meio da teoria de sedução que Freud vai estabelecer a relação que existe entre o sexual e o recalque.
Em “Novos comentários sobre as neuropsicoses de defesa” de 1896, vemos que existem traumas na infância que são resultados da experiência de sedução por parte de um adulto ou por parte de alguma criança que pode ter sido seduzida por um adulto, os cuidadores em geral estão sempre presente nos relatos clínicos da época, freqüentemente encobridos pela figura de um pai abusador. E a cena de “sedução” é tida como se realmente tivesse acontecido. A entrada da sexualidade no mundo infantil possui um impacto que traumatiza, mesmo que sua manifestação sintomática possa vir a aparecer com o tempo.
Em 1905, nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud nos revela uma sexualidade infantil com seus componentes, que são as pulsões parciais, que constituem o “pequeno perverso polimorfo” que se expressa em desejos infantis entrelaçados em fantasias recalcadas, assim descobriu-se a importância da fantasia, fazendo a balança, na etiologia das neuroses e consequentemente na sua cura, pender para o lado do trabalho subjetivo, da responsabilidade do sujeito pelo que lhe acontece. As fantasias passam, assim, a ser o que está na base dos sintomas neuróticos e o que se manifesta de maneira disfarçada nos devaneios e nos sonhos.
A infância é o tempo que ocorrem os primeiros encontros e desencontros, as primeiras perguntas que darão a forma da criança no adulto, a criança que esse adulto um dia terá sido. Ficamos adultos e chegamos na “idade da razão”, mas, no entanto, o sujeito irá buscar numa infância passada a suposta razão. E o que nós lembramos de nossa infância? Muito pouco! Vejamos o que Freud nos diz sobre isso:
“De fato, somos informados de que, durante esses anos, dos quais só preservamos na memória algumas lembranças incompreensíveis e fragmentadas, reagíamos com vivacidade frente às impressões, sabíamos expressar dor e alegria de maneira humana, mostrávamos amor, ciúme e outras paixões que então nos agitavam violentamente, e até formulávamos frases que eram registradas pelos adultos como uma boa prova de discernimento e de uma capacidade incipiente de julgamento. E de tudo isso, quando adultos, nada sabemos por nós mesmos. Por que terá nossa memória ficado tão para trás em relação a nossas outras atividades anímicas? Ora, temos razões para crer que em nenhuma outra época da vida a capacidade de recepção e reprodução é maior do que justamente nos anos da infância.”(Freud, 1905, p. 164).
A psicanálise faz o sujeito falar e possibilita com que ele dê voz à criança que um dia ele foi e que estava no esquecimento. Então podemos dizer que as reminiscências que sofrem os pacientes histéricos são reminiscências infantis, trata-se então de um desejo infantil. É a criança que o homem um dia foi que ele retorna quando se sente desamparado no seu mal-estar, na sua angustia e então é instigado a falar de sua dor. A criança a que as reminiscências conduzem o sujeito é aquela criança que teve que se posicionar de alguma forma neste mundo, para esse Outro, e que se deparou com as suas dificuldades.
Na carta 69 a Fliess, datada de 21 de setembro de 1897, p 309, Freud diz: “Não acredito mais em minha neurótica (teoria das neuroses)”. Freud, aqui volta atrás em sua teoria e diz que as cenas de sedução relatadas por seus pacientes não tinham na verdade ocorrido, eram fantasias de sedução construídas por elas mesmas!! Em “Estudo autobiográfico” Freud nos fala que “os sintomas neuróticos não se enlaçavam de maneira direta a vivências efetivamente vividas, mas sim, a fantasias de desejo, e que, para a produção das neuroses tinha mais valor a realidade psíquica do que a material” (1924 a, p33). Mas é só em 1931, em “Sobre a sexualidade feminina” que Freud dirá que estas fantasias originariamente se vinculam com a sedução exercida pela mãe que se dá através dos cuidados com seu bebê.
É assim que pela primeira vez no interior dessas fantasias, Freud se depara com o complexo de Édipo, que alguns anos mais tarde vai ser o centro do complexo nodal das neuroses, dentro desta concepção da sexualidade, não se falará mais de um tempo pré-sexual, mas da sexualidade infantil operada pelo recalque da latência e o seu reaparecimento na puberdade. Ao complexo de Édipo junta-se ainda o complexo de castração, que juntos vão adquirir uma significação fundamental na formação da neurose. Mas, falaremos sobre isso em outro post!
É assim então que Freud descobriria, no próprio ato de fundação da psicanálise, ouvindo seus pacientes histéricos, as sua reminiscências, que o sintoma psíquico tem um sentido, um sentido inconsciente que lhes escapa, mas que tem um significado que é a expressão inconsciente do desejo do sujeito. Freud descobriu na clínica, ouvindo seus pacientes e na sua análise pessoal que a experiência do inconsciente é uma experiência de linguagem, pois esse sentido inconsciente do sintoma psíquico relaciona-se com a sua história, com suas questões, com seus desejos e este é indestrutível, é sexual e é infantil e diz respeito aos primeiros amores incestuosos do sujeito, desligados da consciência através do recalque.
O método de Freud não limitava-se a uma prática terapêutica, estava localizada no conhecimento, do fato de se estabelecer um sentido e portanto, da interpretação. Desta forma é que desde o início a sua experiência clínica, gira em torno do saber, na oposição entre a lembrança e o esquecimento é assim que Freud conduz e é assim que ele nos revela uma frase que é um clássico da psicanálise: “A histérica sofre de reminiscências” (Breuer; Freud, 1895).

Obs: Vocês viram que fiz questão de colocar em negrito a  parte onde digo que Freud volta atrás em sua teoria? Pois bem, fiz isso, pois sempre que Freud achava que não estava certo ele voltava e "consertava" o que achava necessário! O leitor de sua obra sabe que ele nos brindou não somente com seus sucessos mas também com seus "fracassos" que ainda hoje nos norteia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FREUD & BREUER, Sigmund & Joseph. Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: comunicação preliminar(1893). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Vol.II. Rio de Janeiro. Imago, 1996.
______. (1895). Estudos sobre a histeria. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. IX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
______. (1895). Projeto de uma psicologia para neurólogos. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
Freud, S. (1896). Novos comentários sobre as neuropsicoses de defesa. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. III. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
______. (1896). A Etiologia da Histeria. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. III. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
______. “Carta 69 (1897)” Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. III. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
______. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
______. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
_____. (1924). Um estudo autobiográfico. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
_______. (1924). A dissolução do complexo de Édipo. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
______. (1931). Sexualidade feminina. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.