quarta-feira, 14 de março de 2012

Vingança pode envenenar


Matéria publicada na edição de 11/03/2012, no Jornal Amazônia - PA

Pessoas que premeditam revide, com caráter de crueldade, são propensas a se tornar patológicas

Todo ser humano é capaz de cometer um ato de vingança, de acordo com a psicóloga Carolina Miralha, membro do corpo Freudiano - Escola de Psicanálise - Seção Belém. Não existe especificamente um tipo de pessoa que seja capaz de cometer um ato como esse, acrescenta a psicóloga. "O que se pode diferenciar é a forma como esta vingança será realizada - e é dessa forma que as pessoas podem ser diferenciadas", explica.
A psicóloga alerta para os casos mais graves. "Não devemos vincular vingaça à violência, mas o que torna doentio é quando este ato se torna o motivo de viver daquela pessoa", esclarece.
Nos casos de vingança cruel devemos lembrar a chamada "justiça com as próprias mãos", quando pessoas esquecem os trãmites legais e promovem o veredito e a execução da pena por conta própria.
Pessoas que premeditam vinganças, com caráter de crueldade são propensas a uma patologia, segundo Carolina Miralha. "A vingança pode vir também de forma institucionalizada - os processos jurídicos contra danos morais, por exemplo, são uma forma de tentar reparar uma injustiça causada", explica a psicóloga.
A vingança é a tentativa de restabelecimento de um equilíbrio provisoriamente quebrado, uma forma de reparação. "Isto não significa dizer que cada ato de injustiça tenha que necessariamente causar uma vingança. Devemos pensar em punir injustiças e não vingá-las", afirma Miralha.
A especialista conta que a vingança é uma forma de transferência de uma dor. "Ao buscar vingança ou punição, a vítima crê que aquele que lhe causou um dano, deve pagar na mesma medida para sinta a mesma dor e a mesma humilhação que ela experimentou ao ser lesada", fala.
Para a psicóloga, a vingança independe da maturidade do indivíduo. O ato de se vingar deve ser analisado de acordo com as experiências de vida de cada um. "Cada caso é um caso. Devemos analisar cada situação e de que forma elas geram consequências na vida do ser humano", disse Miralha.

Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de igualar as coisas, esse sentimento é mais destrutivo do que construtivo. Quem busca vingança deseja forçar o outro lado a passar pelo que passou ou garantir que não seja capaz de repetir a ação nunca mais.
Quem dá o troco tenta se livrar da dor

"Quando a raiva se acumula dentro das pessoas, provocando sofrimento, elas precisam se livrar dessa dor. E, muitas vezes, recorrem à vingança", explica o psiquiatra Guilherme Medina, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Segundo o médico, formado pela Faculdade de Medicina da USP, o revide imediato é um modo primitivo de transferir a dor para o outro. Bateu, levou. Já a vingança é mais complexa.
"Leva em consideração quem bateu, como bateu e o agente da vingança só se satisfaz com a garantia de que o outro sofreu. De um modo extremo, pode se dizer que a verdadeira vingança aniquila o outro", diz Medina. "Dependendo do motivo, se pode até perdoar a morte como consequência de um ato vingativo", diz o psiquiatra, em referência à interpretação legal de legítima defesa da honra, muito usada até a década de 1970 no país, para absolver homens que matavam em casos de adultério.
Até mesmo no Velho Testamento há referências da vingança, ou olho por olho, como algo legítimo. Para a psiquiatria, a vingança tem a ver com a maturidade de alguém suportar uma dor. "Quanto mais madura e equilibrada for uma pessoa, menos vingativa ela será", diz o psiquiatra Medina.

Pessoas vingativas revelam de imaturidade a desequilíbrio

"A vingança é um prato que se come frio". O autor dessa frase é desconhecido. Já foi atribuída a vários personagens de ficção e escritores, entre eles o francês Pierre Choderlos de Laclos (1741-1803), que escreveu "Ligações Perigosas", um romance que se passa na França do século 18 e retrata as maquinações movidas pela vingança. O tema, aliás, é um prato cheio para as inspirações literárias. Outro grande e famoso romance é "O Conde de Monte Cristo", do também francês Alexandre Dumas (1802-1870). A saga do marinheiro Edmont Dantè, que arquiteta por mais de uma década seu revide contra os três homens que o condenaram à morte em uma prisão insular, é, provavelmente, a mais famosa história que retrata uma vingança.
"O ato patológico da vingança é cometido por pessoas com estrutura emocional frágil, pessoas que não permitem nenhum tipo de castração ou frustração e que são extremamente narcisistas", explica Sergio Ignacio, membro da Sociedade Paulista de Psicanálise. "A personagem Tereza Cristina [de Christiane Torloni], da novela ‘Fina Estampa’, por exemplo, tem um código social próprio e quem o infringe está fadado a receber sua vingança. Como esse código não é o mesmo da sociedade, porque é próprio, individual, ela se vinga o tempo todo. Isso, para a psicanálise, é uma doença", diz Ignacio.

Desprezada por família rica do namorado se vinga da sogra

A engenheira Marina, de Taubaté (SP), tinha um namoro tranquilo com o fluminense Pedro (nomes fictícios), estudante de relações internacionais, quatro anos mais novo do que ela. Tudo estava tranquilo até a mãe do estudante começar a interferir no relacionamento, alegando que ela era "muito velha para ele e estava interessada na fortuna da família". Pressionado, Pedro, que dependia da mãe, terminou o namoro de dois anos.
"Em momento algum insinuei que gostaria de me casar com ele. Sempre fui independente e já tinha um bom salário. Era totalmente infundada a suspeita de que tinha a intenção de dar o golpe do baú. Além do mais, a tal fortuna que ela apregoava não existia, uma vez que a família estava em notória decadência. Eu simplesmente gostava de Pedro de um jeito que ela não poderia gostar."
Inconformada e sentindo-se desrespeitada, pela forma como foi tratada por ele e pela ex-sogra, Mariana começou a arquitetar uma vingança. Denunciou a loja da mãe do namorado, que funcionava de maneira irregular, à prefeitura da cidade e enviou uma carta anônima relatando o comportamento nada aristocrático da nova namorada de Pedro à mãe dele. "Senti-me vingada, aliviada e pude seguir em frente com a minha vida", afirma Marina, hoje casada e mãe.
A vingança está em todo o lugar, e não só na cabeça da vilã Tereza Cristina. Ela está muito presente no dia a dia das pessoas. E por que elas se vingam? "É um escapismo. No latim, vingar-se quer dizer liberar-se, clamar. É a justiça dos homens no seu estágio selvagem", diz o terapeuta. Segundo ele, a vingança acontece todo momento. No mundo social e corporativo. "Pode vir como uma frase que comprometerá alguém, um e-mail não enviado, um documento propositalmente extraviado."

domingo, 11 de março de 2012

Biutiful



Da cidade de Barcelona, podemos contemplar as entranhas, os arranjos fora da lei que ligam redes de comércio ilícito, corrupção policial, relações interpessoais totalmente amorais. E, principalmente, os elementos mais degradantes das condições de vida e trabalho de imigrantes africanos e orientais que, no velho – e cada vez mais decadente – continente, sucumbem junto a seus sonhos e esperanças. É neste lugar que Uxbal (Javier Bardem) está inserido, numa versão mórbida do que pensamos ser uma cadeia produtiva. É um homem que tira seu sustento de um esquema sórdido, mas no entanto é capaz de gestos sublimes. Um ex-marido irascível, mas consciencioso, um pai tirânico e amoroso, violento e doce. O tipo de personagem que não conseguimos reduzir as tipologias de cunho pedagógico. Vários em um mesmo homem, e no limite com todos eles.

Uxbal tem sua morte anunciada pelo diagnóstico de uma doença terminal. E ele mantém com a morte uma curiosa relação. A morte é o personagem que dá as cartas. Uxbal é conhecido na comunidade como aquele capaz de conectar-se com os mortos, intermediando processos de desencarnação. Mas nem esse apelo nos consola. Pelo contrário, é em gestos e acenos concretos que Uxbal consegue reaver algo de sua humanidade. Reavendo a ex-esposa desequilibrada –  interpretada por Maricel Álvarez – ou intercedendo pela diminuição do sofrimento daqueles que agencia, enfrentando o enigma da paternidade, que, conforme nos ensina Freud, é aonde esta os fundamentos de nossa relação com a Lei, com a moralidade,  e também com a transmissão da bagagem simbólica por meio da qual a cultura humana supera a transitoriedade de existências individuais. Eis aí onde o título da obra encontra seu mais pleno acabamento.

“Papai, você sabia que as corujas quando morrem soltam uma bola de pelo pela boca?” Essa pergunta feita por seu filho caçula é articulada a um momento de reencontro com os rastros e restos de seu próprio pai, conduz a mais bonita e emblemática sequência do filme. O cenário é inóspito, glacial, onde Carvalhos (robles) repousam sob a neve e vemos uma coruja morta. Um cenário imaginário, em que Uxbal revê o pai. Mas quem é quem entre pai e filho? Uma cena antológica, sobre a invenção ou reinvenção de um pai. Sobre a conquista de um lugar no mundo que nos mostra que a fragilidade humana, encontre no outro uma guarida, um reconhecimento e, mais ainda, um sopro que é capaz de estabelecer laços cujos fundamentos são a falta e a finitude. A beleza floresce no solo do desamparo, da precariedade e esta cena nos mostra que  a vida é a trama e o enlaçamento  que cada sujeito é capaz de fazer  a partir dos fios que herda do outro. E como toda herança, é preciso que o sujeito assuma para si para torná-la sua, para assim tornar-se apto a transmiti-la.

O belo, foi compreendido sob a perspectiva do véu que recobre o horror da morte, do vazio. O “suave torpor” da beleza, na expressão de Freud, pareceu outrora o bálsamo com o qual nos consolávamos do mal-estar do mundo. Como enfrentar a morte? Como lidar com a finitude e fragilidade da nossa existência sem, no entanto perder o encanto e a paixão pela vida? Não compramos o bilhete da nossa partida definitiva, mas o que fazer quando sabemos que temos 2 a 3 meses de vida? Vida e morte caminham juntas inseparáveis, poderosas, e Uxbal nos mostra muito bem essa caminhada inevitável. Não pensamos muito na morte, até mesmo por uma defesa do ser humano, colocamos um véu ilusório que nos afasta da percepção da morte, mas que, em certas circunstancias, e num dado momento, cai o pano, e a morte se impõe, apesar de todo nosso desejo de viver.

O filme toma seu título de empréstimo a uma cena em que Ana, filha de Uxbal, pergunta ao pai, como se escreve beautiful. Em singelas passagens o filme cerne sua costura central, e que se define por um movimento contundente entre transitoriedade e permanência, entre abandono e amor, solidão e presença, desamparo e laço. Nessa cena, a resposta do pai transmitida à filha reaparecerá mais adiante como emblema da nomeação de seu desejo. “Os Pirineus são biutiful”, escreve Ana em seu desenho, no qual se pode discernir a grafia singular de um desejo que não tem nome, que põe em cena toda a expectativa de reconciliação de uma criança com seu turbulento universo parental e sua precária condição social. Biutiful é também a rubrica sob a qual, sem saber, essa jovem cultivará impressa e viva, na argila de sua memória, a herança de seu “roble”, nas palavras do próprio diretor, seu pai.

Iñárritu, Diretor do filme, não é um moralista, mas se ele fosse, talvez Biutiful tivesse um lamento teológico por conta do destino tão doloroso, reiterando toda a nossa culpa e incitando nossa miséria perante a fúria dos deuses que insistimos em fustigar. Ou,  ele também poderia se voltar a uma demonstração de vícios, depravações e outras desumanidades, no intuito de firmar o desamor e a paranoia que reivindicam seu lugar entre os mais basilares fundamentos de nossa condição existencial contemporânea. Mas não é esse o caso. O filme mostra o que há de insuportável no real que nos cerca que nos habita, e isso sem a finalidade de nos prender na conjuntura das leis divinas e “naturais”.

Não faz também que ele faça da realidade um show, um espetáculo, que classificam e hierarquizam os valores humanos reiterando a instrumentalização dos vínculos, o consumo desenfreado de si e dos objetos, o hedonismo disfarçadamente suicida e as demais respostas mercantilizadas frente ao desgosto do mundo. Mas não. O autor e diretor de Biutiful se demarca habilmente da posição do moralista, realizando um filme eticamente complexo. E que nos mostra o mínimo necessário para vermos o sonho civilizatório europeu, sua faceta recalcada.

Somos levados imediatamente, à perguntas que tanto adiamos e normalmente nem pensamos, enquanto tudo parece andar muito bem conosco. Como está nossa vida??? São tantos os afazeres, os compromissos que nem sempre temos tempo, ou temos medo de tentar colocá-la em ordem. É isso mesmo, medo! Quando pensamos, repensamos em nossos relacionamentos, nossas realizações, reavaliar a prioridade do nosso tempo, nossos desejos e em que devemos colocar verdadeira importância. Pensar em nossa vida, falar de nossos temores, nossas angustias, não é fácil, mas falaremos disso em outro post.

           


Cada Gêmeo com seu estilo

1)    É saudável fazer comparação entre irmãos gêmeos?

Não! Nenhuma comparação é saudável. Algumas mães, ainda com os filhos no útero, começam um processo de diferenciação, alegando que um é mais inquieto ou mais dorminhoco que o outro. Normalmente os identificam pela posição que ocupam no útero. Perceber as diferenças entre os filhos desde o útero pode ser algo muito útil no sentido de diferenciar a individualidade de cada bebê, mas extremamente negativo se a partir daí começar as comparações entre os gêmeos.


2)    Como os pais devem se comportar para que não haja rivalidade entre os gêmeos?

Cada filho tem um lugar único dentro da estrutura familiar e é importante que os pais estejam atentos a isso. Uma coisa muito comum entre crianças gêmeas e vê-las vestidas de maneira igual. Pode ser até bonitinho, mas mesmo quando são pequenos isso de certa forma prejudica a formação de cada um. Quando os pais agem dessa maneira dificultam que cada criança tenha a sua individualidade, dificultando também a diferenciação entre os filhos.


3)    Isso pode comprometer a autoestima? Como?

Sim, é muito importante como disse acima que haja uma diferenciação entre os gêmeos. Por exemplo: Cada criança tem seu nome e é fundamental que eles sejam chamados cada um pelo seu nome e não “os gêmeos”. Pois, assim esse rótulo, pode causar uma baixa auto estima, pois aprenderam desde cedo que não podem exercer a sua individualidade e identidade.

4)    A competitividade entre gêmeos é comum?

Assim como qualquer relacionamento entre irmãos, é normal existir competições, atritos, mas quando o relacionamento se dá entre irmãos gêmeos, essa competitividade pode ser maior, afinal eles dividiram o lugar até dentro do útero. Por isso os pais tem que saber que não é porque eles são parecidos ou iguais que devem fazer as mesmas coisas. Cada um é cada um, com suas qualidades, defeitos, desejos e planos diferentes.

5)    Essa situação pode afetar na personalidade de algum dos irmãos?

Pode. Por exemplo: ás vezes uma das crianças pode ficar com dificuldades para fazer amizades, ficando de espectador do outro e seguir por um bom tempo ou pelo resto da vida sendo um expectador do outro irmão ou irmã. Nesse caso o que se orienta é separá-los, por algum tempo. Assim, sem o irmão ou irmã, poderá fazer suas próprias amizades. E, o aumento da sociabilidade irá lhe proporcionar independência e confiança, além de oportunidade de desenvolver talentos e interesses individuais. Como disse acima a tarefa dos pais é oferecer oportunidades para que cada criança possa desenvolver sua autonomia e sua individualidade. E isso é tão importante para gêmeos, como para uma única criança. Uma boa forma de auxiliá-la nesse processo é permitir que a criança faça escolhas.